sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O que não pode faltar na geladeira de um solteiro...


Hoje, após um banho de inspiração por um texto que li, fui preparar algo para comer. Ao abrir a geladeira constatei: “Ufa! Tem ovo” – daí foi só o primeiro passo para a elaboração de um texto meu. A princípio seria algo como “o que não pode faltar na geladeira de um solteiro(a)? E a resposta seria: ovo. Pensei em narrar a versatilidade do ovo. Doces, salgados, sanduíches, complementos, pastinhas, etc. Então começou a verdadeira viagem...

Parceiro das horas mais difíceis que passei, quando não tinha por que ou para quem cozinhar... Aquelas horas em que inevitavelmente os amigos tinham que voltar pra casa, muitas vezes ficamos só nós dois. Por vezes ele, o ovo, em maior número que eu (hehe), mas lá estava a me manter de pé (literalmente). Veio ainda o pensamento de que o ovo é “um ser” sozinho por natureza e dele pude tirar uma porção de lições e mais pensamentos...

Tal como o “tal ovo”, podemos ser aparentemente simples e sozinhos, mas somos muito importantes. Lembrei das inúmeras vezes que precisei de comidas elaboradíssimas (nada de ovo, claro!) para garantir que não estaria sozinha. Tentava banquetear a solidão para que ela se interessasse pela comida e não quisesse se apegar a mim. Chorei o desespero de me sentir numa casca frágil e prestes a quebrar, caso alguém quisesse me jogar ao chão de novo.

Foram alguns meses (que pareceram anos), na tentativa de me reconstituir, ou melhor, de realmente me construir, descobrindo quem realmente sou. Percebi que vale a pena começarmos pelo começo, o ovo. Gostar de estar sozinha foi uma lição e tanto. Percebi que sou capaz de amar a mim mesmo, que sou feliz comigo, que posso ou não participar de omeletes, gemadas, bombocados, pudins de clara... ou simplesmente me animar em ser um delicioso ovo frito a ser comido sozinho. Digo delicioso ao menos para mim. Pouco passou a importar se em alguns momentos o outro faz questão de dizer que prefere o bife. Se eu estou feliz, a opinião do outro só importa se complementar a minha felicidade. Claro que os ouvidos e o paladar precisam estar apurados para detectar a possível falta de sal, o excesso, o estar “fora do ponto”... isso é importante sim, as receitas são adaptáveis (como diria a Ofélia – aquela dos famosos livros de receita), mas a base precisa ser mantida se não desanda.

Terminei de viajar, digo, de preparar minha comida, E fui comer aquilo que passou a ter um gosto mirabolante com o recheio de pensamentos tão loucos. Ao voltar à realidade e à necessidade de sobremesa, voltei a geladeira e constatei de novo: opa! Não tem só ovo! Tem ainda danoninho, todynho, yakult, frutas da estação... sorri de novo... mais do que nunca tenho motivo para sorrir, pois meu filho (o dono das iguarias com sabor de infância) estava lá bem pertinho de mim. E hoje, ter aprendido a ser feliz sozinha, para estar pronta para querer o outro, me fez mais acompanhada do que nunca e capaz de amar ao meu pequeno ainda mais e jamais me sentir realmente só, sem que para isso tivesse que sufocá-lo com medo de não tê-lo, como um frágil ovo cru.

Um comentário:

Unknown disse...

Nossa, Joyce... amei! Bem o momento que estou vivendo e confesso que teve gostinho de alento pra alma ler esse texto. Sensação de que não estou sozinha, que outras pessoas me entendem e passam/passaram por isso também. Obrigada!