terça-feira, 5 de junho de 2012


 Eureka! Minha eureka...Deus mora lá

Após uma pequena prática de yoga sobre o costão rochoso, caminhava pela praia de Tucuns (Búzios/RJ) quando (re)pensei essas coisas...
Lá estava eu, em estado de absoluto torpor ao me deparar com a beleza estonteante de um azul único, um “azul quase inexistente, azul que não há, azul que é pura memória de algum lugar”, como diria Caetano. Era uma imensidão de azul que imbricava céu e mar, numa moldura de diferentes verdes com a sinuosidade das curvas da areia. Era lindo! Parei e refleti. Lágrimas traçaram uma correnteza de felicidade. Vi-me fazendo parte daquilo tudo. Sou eu a natureza, estou nela e ela está em mim. Encontrei o Meu Deus!
Era tudo junto. Mar, eu, areia, céu, cactos, pássaros, algas, ouriços e muito mais... sol, eu, lua, estrelas e muito mais... Foi um momento mágico. Você não estava lá, mas sabia que fazíamos parte um do outro.Vi um pedacinho de mim em cada ser, em cada matéria. Foi um alívio!
Digo alívio porque ao longo da existência consciente do Homem, forjamos Deus em um metal muito humano (isso em minha opinião, claro!). O Deus-humano vigia, pune, massacra, põe à prova a natureza dos seres quando a limita utilizando argumentos criados e recriados de acordo com interesses puramente humanos (sociais). E ao constatar que dentro de mim havia um Deus muito mais simples, que é pura energia, chorei de emoção.
Lá estava Ele diante de mim, dentro de mim, para além de mim. Era simples ver. Não tive medo, pois Ele não estava esperando a minha confissão, tampouco me faria pagar a penitência por tantos anos renitentes a sua crença incondicional. Por anos amarguei uma certa culpa pela rebeldia de não ter uma religião, algo que sempre considerei humano demais para abrigar meus questionamentos. Portanto, naquele momento senti uma força Divina, em todo sentido da palavra.
Foi ai que entendi mesmo o que dizemos na yoga...Namastê – o Deus que habita em mim é o mesmo Deus que habita em ti. Sorri e chorei de felicidade! Deus realmente existe! Ele é nossa energia vital, aquilo que existe, e isso sim passou a ser inquestionável para o meu aliviado coração.
Pensei nas músicas, mantras e orações como meio de acessar esse Deus e ativar esse energia estagnada e deixá-la fluir... ouvi o som das ondas, ouvi meu coração, ouvi pássaros, ouvi o silêncio... Era como uma orquestra afinadíssima dando o compasso da vida. Foi incrivelmente lindo.
Claro que ainda assim não me achava apta para sair por ai admitindo tamanha “loucura” (tem sempre alguém para dizer que “todo biólogo é meio doidinho mesmo” hehehe). Deixei esse “Deus por todo lado” guardadinho em meus pensamentos. Eis que dia desses recebi de um grande amigo uma mensagem (não pensem que foi divina...ainda não cheguei nesse ponto rsrsrs!). Uma mensagem dessas de Internet que falava sobre “O Deus de Spinoza”. Adorei! (vou postar para vocês). E não é que o sujeito, lá nos idos do século XVII falava algo bem parecido com o que naquele dia achei ser a “minha eureka”. Para Spinoza, Deus nos manda usufruir da vida com a simplicidade de quem reconhece sua beleza e importância, e não de forma temerosa dos vigiados que arrastam as correntes de culpas humanas. Segundo diz a tal mensagem, era nesse Deus que Einstein também acreditava. Fiquei contente, claro... Imagina: Eu, Einstein e Spinoza jogando no mesmo time! Goooool kkkkkk
Decidi então, finalmente, escrever esse texto aqui. Para dividir com vocês um pouquinho das minhas reflexões e esperar por vocês para um belo bate papo à beira mar, na cachoeira, no mangue, na montanha, em você, em mim...onde quer que Deus esteja, ou seja, em todo lugar!!!! Namastê!

Obs: Baruch (ou Bento, ou Benedictus Espinoza -nascido em 1632 em Amsterdã, falecido em Haia em 21 de fevereiro de 1677, foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Era de família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.

 Essa foi a tal mensagem...

Einstein quando perguntado se acreditava em Deus, respondeu: “Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pela sorte e pelas ações dos homens”.
Este é o Deus ou Natureza segundo Spinoza (ou Espinosa):
Se Deus tivesse falado:
“Pára de ficar rezando e batendo no peito! O que Eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti. Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho...Não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?
Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportam bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti. Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti.
A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia. Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas. Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno. Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho: Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tenha certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?
Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.
Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam. Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.
Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações? Não me procures fora. Não me acharás! Procura-me dentro... aí é que Estou, batendo em ti".
Baruch Spinoza