quinta-feira, 14 de junho de 2018

Dos olhos às entranhas



E foi assim. Eles se entreolharam mais uma vez com olhos de desejo. Queriam retomar seus eros.
Eles sabiam, era como se guardassem um para o outro a poesia do encantamento que sempre foi além dos olhos. É coisa de corpo todo encantado, por dentro e por fora.
Os olhos sedentos finalmente os despiram como sempre quiseram fazê-lo. Os olhos já antecipavam que concretizariam antigos sonhos desejosos. Tocaram-se finalmente.
As mãos trêmulas tiraram as vestes concretas, entre a compulsão e o carinho, para que finalmente as peles se tocassem em plenitude, como nunca puderam fazer. O tato, que agora auxiliava os olhos, deu o tom da poesia dos corpos desnudos. Toques se esparramaram de tesão. Pêlos eriçados deram à química do contato o entrelaçamento esperado. Deram nós.
Os beijos, ah os beijos, eles foram para todos os lados, todos os cantos e recantos umidificados de prazer e anseio de gozo. Aqueles lábios e línguas queriam mais que tudo percorrer territórios ainda não visitados, pois fazia tempo que queriam mais do que tiveram até então.
Foi quando, loucos pelo prazer que os dominava e ardia, Ela implorou para que Ele a penetrasse. “Vai, meu sonho, penetra em mim como sempre me desejou, entregue a vc”. Ele a preparou. Afastadas as pernas, escorridas de molhadas ambições, ele adentrou nela, fazendo surgir um pulsar único, de absoluta entrega. Finalmente, aqueles corpos eram apenas um. Num vai e vem, cada vez mais forte e intenso, ainda que carinhoso, eles se entregaram aos gemidos e toda sorte (e que sorte!) de frases de indecorosa libido deflorada.
Entrega, foi a mais bela entrega. Nem eles poderiam imaginar tantos sinos dobrando junto ao arfar daquelas respiradas intensas e sons de contentamento.
E foi assim, num Kama sutra tal qual nas escrituras, foram experimentando e querendo mais.
E foi assim, numa mistura de dúvidas e certezas, que Ela pediu a Ele em tom arrastado: “goza, meu homem dos mais belos olhos de desejo, goza em minhas entranhas. Te quero sentir gota a gota percorrendo meu ser, para que, numa simbiótica gozada, possamos alcançar o êxtase que dominou nossos sonhos por tanto tempo”. Ele então, com singelo sorriso, obedeceu ao pedido louco e feliz. Gozou-a enquanto a beijava loucamente, como se quisera engolir os gemidos emitidos, para guarda-los como prêmio. As entranhas ficaram tomadas do sêmen poético de tantos sonhos guardados.
Assim, após todo pulsar de entrega, cada gota de gozo sonhado, Ele deitou-se sobre Ela, no peso exato para sentirem-se mais uma vez um só. Mais uma vez, os olhos se entreolharam. Porém, dessa vez não eram mais olhos de desejo, eram olhos de felicidade sublime que os fizeram adormecer para garantir e perpetuar novos sonhos. Desta vez, sonhos sonhados nas entranhas de mentes felizes. Dormiram sorrindo. Acordaram sonhando.