domingo, 18 de maio de 2008

Liberdade e a opção pela prisão

Incrível é a nossa capacidade de auto-aprisionar!
Nos aprisionamos desde o inicio da vida. Medos mais primitivos são, no primeiro momento, autopreservação, e quando não são vencidos passam a ser barreiras quase que intransponíveis, e não mais cercas a serem puladas quando amadurecemos. Crescemos habituados com nossos preceitos e valores, e, mesmo que esses estejam por vezes deturpados, temos uma dificuldade enorme em nos livrar. Até os dogmas “aprisionantes” entram precocemente em nossa formação, quando anexamos em nossa forma de pensar, um Deus punitivo e vigilante ao qual nos prendemos para que a correção de nosso andar corresponda ao que a sociedade espera de nós.

O tempo passa, e nos alimentamos com a televisão e sua infinidade de ataduras que se agarram em nossas articulações. Quando passamos a temer de forma desmedido o simples fato de andarmos por aí devido à violência apregoada, deixamos de viver, enquanto políticos e bandidos caminham livremente. Quando incorporamos ao nosso vocabulário e/ou discurso expressões e neologismos recebidos de um “Zé-ninguém” da novela das 8, vamos engolindo pouco a pouco as pílulas de água com açúcar menos inofensivas até agora inventadas e utilizadas contra nós mesmos. E por aí vai o hipnótico poder desse aparelho de grades invisíveis para a maioria de nós.

E as prisões não param... Aceitamos quase sem questionar a ditadura da moda, mesmo aquelas que não combinam com nosso perfil físico, financeiro ou psicológico. Aí sim, deixam de importar os conceitos de vulgaridade e adequação, que gritam em nossos ouvidos durante quase todo tempo, já que é a hora e a vez de usar um “modelito” fashion como aquele da “fulana de tal”.

E o dinheiro – você já viu alguém se libertar do valor que o dinheiro tem? Por que não nos acostumamos a viver mais e acumular menos? E se partimos antes da tal velhice? Será que aproveitaremos o fundo para a aposentadoria construída sem que tenhamos vivido? Mas o medo de não ter mais adiante, faz com que nos aprisionemos na certeza de não precisarmos viver o agora.

E o preconceito? Noooossa!!!! Esse é o grande aprisionador de qualquer sociedade. Seja ele de gênero, social, racial, religioso... nos leva a pensar que o outro está errado e o certo somos nós. Julgamos, condenamos e executamos a pena sem dó nem piedade e quando percebemos (se é que percebemos), somos nós os “errados” porque partimos do ato construirmos paredes e paredões que reforçam as idéias de supremacia de um em relação ao outro. E como parede são formas de contensão... Estamos presos!!!

Em caráter mais íntimo, está o medo inerente aos relacionamentos – medo da perda da liberdade, medo do domínio, medo da disputa, medo de falhar na “hora h”, etc. Por que tanto temor? As mulheres carregam uns grilhões sociais ainda mais pesados que dizem respeito aos seus medos do abandono, de abalar a fragilidade de sua imagem (que deveria ser comparada a da Mãe Maria), de ser delas a maior responsabilidade na formação/construção dos filhos, de dizer o que sente e deseja na cama... e por vai... e por aí vamos... presos e cegos, certos de que estamos no caminho certo.

Acredito que optamos por carregar falsos diamantes nos bolsos a ter que soltá-los e ficarmos leves e livres para irmos em busca de verdadeiras pedras preciosas de felicidade. A liberdade é fundamental, mas mesmo assim optamos ou não conseguimos força para arrancar as amarras. Será que sem liberdade temos a falsa sensação de que temos proteção de uma barreira? Quisera eu ter respostas mais libertadoras, quisera eu poder me desamarrar, quisera eu poder dar coragem a mais gente para se libertar.. por hora só consigo gritar e tentar ser ouvida: VIVA A LIBERDADE!

Joyce Alves rocha