terça-feira, 2 de abril de 2019

Dia internacional de uma mulher

Hoje, 8 de março de 2008, faz aniversário o “aviso oficial” que minha vida mudaria para sempre. Exatos 7 anos, chegava aos meus ouvidos o resultado do bHCG – era positivo para gravidez!!!! Nem que eu escrevesse um texto gigante, ou um livro, conseguiria descrever o que senti naquele instante. Sabia que nunca mais seria a mesma!!!
Fez-se uma grande confusão dentro de mim...
Ser mãe era tudo que eu sempre desejei na vida. Lembro como se fosse hoje das horas que passava brincando de ter uma “penca” de filhos; ou as orações a Deus pedindo que me concedesse o direito de ser mãe. Mas, naquele momento de sonho real tive medo, muito medo!!!
“E se errar mais do que acertar? E se for mais difícil do que brincar de boneca? Será que era hora? E meu doutorado? E a saúde do bebê? E...E... E...” Eram dúvidas, dúvidas e mais dúvidas.
Acho que todas as mulheres concordam comigo que leva um tempo para a ficha cair e sentirmos que vamos dar conta do recado. Esse “meu tempo para acostumar com a idéia” foi até bastante encurtado porque tive apoio e uma boa circunstância. Afinal, já estava casada, tinha toda a infra-estrutura que precisava, um emprego e era muito feliz. E justamente por isso, inevitavelmente, volta meia era remetida para as sensações que devem ter minhas incontáveis alunas que engravidam precocemente ou mesmo minha mãe que soube de mim aos 16 anos. Se eu tinha dúvida de aos 29 anos estar preparada... imagina elas?!?! [vejam Juno, no cinema]
Então o sonho foi crescendo, mexendo lá dentro e se convertendo em realidade. Entre dietas especiais, bordados, consultas, ultras, vida normal de trabalho, sono (muito sono), roupas que iam ficando apertadas... ia me preparando para o “grande dia”...
9 meses depois, fiou apertado lá dentro, e finalmente pude dar o primeiro beijo naquela cabecinha lambuzada que acabara de sair de mim (click! nossa primeira foto – ele adora quando eu conto essa parte da história). Saíra do meu ventre para morar para sempre em meu peito.
Era concreto que a minha felicidade existia, estava em meus braços e que as preces tinham sido atendidas. Eu tinha meu filhote para amar incondicionalmente!!! Como um animal selvagem, agora tinha a missão de proteger a cria, mas ensinar a voar, nadar, correr e se virar sozinho. O mundo em breve o adotaria! E é isso que eu quero. Que cresça uma pessoa de bem e que saiba fazer parte de um mundo melhor (com sua contribuição, é claro).
Hoje ele é um rapazinho (como gosta de ser chamado) de 6 anos, 4 meses e 8 dias. Estamos nós dois, dia-a-dia aprendendo um com outro. Acho que nunca aprendi tanto!!!
Quando conto essa história para ele sinto que nossa conexão aumenta e que de alguma forma nos escolhemos mutuamente em algum ponto de alguma dimensão. Sabíamos das tempestades, mas tínhamos a certeza de lindos dias ensolarados e tranqüilizadoras noites enluaradas.
É por tudo isso que comemoro hoje mais do que o dia internacional da mulher, comemoro um grande acontecimento em minha vida de mulher, a realização de um sonho. Poder finalmente ser mãe é sentir na pele a capacidade de ser forte e de amar uma criatura que faz parte de você, que é sua responsabilidade, mas que precisa crescer. E se essa criaturinha é o Miguel... tudo fica muito mais mais legal!
“Meu amor, meu Miguel, meu anjo sempre tão lembrado, sua mãe (beijona e coruja) é feliz por ter você!!!!! TE AMO!!!!!”

Das saudades circadianas

Talvez seja o inebriante luar, ou as reflexivas estrelas, ou quem sabe apenas as lembranças de outrora. Fato é que vez por outra, nas madrugadas etílicas, a saudade dele é tomada aos goles.
Não se veem mais faz algu tempo, porém, é possível imaginar aquele rascante poeta envolto em letras e fumaças de Malboro, em intrigantes e confusos pensamentos, com as certezas tortuosas dos ébrios geniais, especialistas em fuga da vida para se entregar à poesia.
Pelos ouvidos dele penetram canções que preenchem as lacunas deixadas pelas tórridas lembranças dela, que apesar de aparições fugazes, sempre fizeram arder aqueles corpos em nós emaranhados de tesão. Quem sabe até o desejo ainda percorra o caminho da pele aos corpos cavernosos que intumescem? Creio que sim, pois Ela conta que das vezes últimas, as mãos inquietas e sem pudor revelaram o que da boca não sai, ao menos não em palavras, e sim em salivação desejosa. Mas, isso e tudo que se tem.
Sim, suas saudades são circadianas. Estou cada vez mais certa disto. Varam noites rumo à madrugadas. Correm contra o tempo. E antes do amanhecer, escondem-se nalgum canto, salvaguardando-se, para que pela boca não vaze ao nascer do sol. Bravamente Ele resiste engolindo a embriaguez poética dos amantes alimentados de saudade.