terça-feira, 2 de abril de 2019

Das saudades circadianas

Talvez seja o inebriante luar, ou as reflexivas estrelas, ou quem sabe apenas as lembranças de outrora. Fato é que vez por outra, nas madrugadas etílicas, a saudade dele é tomada aos goles.
Não se veem mais faz algu tempo, porém, é possível imaginar aquele rascante poeta envolto em letras e fumaças de Malboro, em intrigantes e confusos pensamentos, com as certezas tortuosas dos ébrios geniais, especialistas em fuga da vida para se entregar à poesia.
Pelos ouvidos dele penetram canções que preenchem as lacunas deixadas pelas tórridas lembranças dela, que apesar de aparições fugazes, sempre fizeram arder aqueles corpos em nós emaranhados de tesão. Quem sabe até o desejo ainda percorra o caminho da pele aos corpos cavernosos que intumescem? Creio que sim, pois Ela conta que das vezes últimas, as mãos inquietas e sem pudor revelaram o que da boca não sai, ao menos não em palavras, e sim em salivação desejosa. Mas, isso e tudo que se tem.
Sim, suas saudades são circadianas. Estou cada vez mais certa disto. Varam noites rumo à madrugadas. Correm contra o tempo. E antes do amanhecer, escondem-se nalgum canto, salvaguardando-se, para que pela boca não vaze ao nascer do sol. Bravamente Ele resiste engolindo a embriaguez poética dos amantes alimentados de saudade.

Nenhum comentário: