domingo, 2 de março de 2008

Cenas de filme

Ela se prepara para seguir toda aquela distância para vê-lo.

Ele se prepara para recebê-la junto com toda aquela gente.

Eles são íntimos, muito íntimos e declaram amor dos mais legais um pelo outro.

Apesar de tudo são só amigos, muito amigos, mas só.

Ele é gay.

A espera dela está toda a família dele, além de agregados e vizinhos. Todos numa só torcida, quase novena, pela masculinidade dele.

A espera dela um banquete. Nunca vira tanta comida! Uma verdadeira orgia alimentar daquelas típicas do subúrbio, do qual estavam acostumados. Era evidente que festejavam a esperança. Celebravam a possibilidade da perpetuação daquela cultura de unirem-se todos a mesa.

Entre olhares atentos, trocas de cochichos e muita atenção dispensada ao suposto casal, as esperanças foram minguando. Menos a dela. Ela que sonhava com outro futuro que o coração materno queria ver, apenas para ganhar tempo.

Mas, isso é mera cena.

É preciso ver os bastidores do dia-a-dia. Porque será que ainda é tão difícil compreender que a vida do outro não está nas suas mãos? A quem é dado o direito de interferir, mesmo com o argumento de que é por preocupação, medo ou amor?

Não, não, mãe não é para isso! As mães (e pais) precisam estar do lado sim, para amparar os filhos, sejam eles gays ou não! E não para tentar oferecer a “cura para seu próprio bem”. Isso faz parte do preconceito que brota dentro da própria família. E esse é difícil de suportar e compreender. Amor de pais não era para ser incondicional?

Mas o tempo passa, a cena passa a ser corriqueira como uma repetida novela do “vale a pena ver de novo” e todos continuam com a TV ligada. Se acostumam e nunca mudam de canal. Porém ao deixarem de mudar o canal, deixam de enxergar que no outro há um capítulo inédito de uma outra história a ser desvendada e compreendida, e não uma história de “você decide” em que o final está em suas mãos, no seu controle não remoto.

Famílias, ao assistirem essa cena cada vez mais explícita e necessária, saibam como lidar com ela e não finjam que é outro filme. Ou que é possível reinventar a história, como aquelas que adaptamos às crianças para não chocá-las com a realidade da vida. É apenas uma história real. Viva a realidade das diferenças. Só assim seremos todos mais felizes!

Joyce Rocha

3 comentários:

Octávio disse...

é aquilo né... ninguém espera que o filho(a) seja gay, é normal no inicio que os pais se choquem com a notícia, e que ajam de maneira estranha (muito estranha)... achar natural ainda é difícil para muitos... para alguns, fingir que não é verdade é a solução... para outros mais "extremistas" o filho deixa de ser filho.
O fato é que, não podemos julgar esses pais, e nem os filhos, nem a sociedade... julgar de nada vai adiantar, o negócio é ser quem vc é, e respeitar o próximo!
Respeito às diferenças é o que há!
beijos!

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Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Carlos disse...disse mesmo:
Tá falado,Joyce.é isso mesmo.
Nossa vida está nas nossas mãos,e ese usam o artifício que "falam por que se preocupam com nosso futuro" na verdade tem um preconceito velado atrás do zêlo.Preconceito "branco",mas PRECONCEITO...
Parabéns!!