sexta-feira, 7 de junho de 2024

Das ilumiaras que eram para sempre se fez noites eternas

 

 

Foi-se um momento em que era dia, era luz, era fogo, era calor, era elixir de ânima e juventude, era magia que transcendia e driblava as verdades com maestria. Do topo idílico das marcas encravadas nas pedras do medo, tudo se fez tão crível que a alimentou de uma coragem única e crença de felicidade possível. Todos os escudos e defesas foram desarmados porque se fez crer que não eram mais necessários. Era a paz que não mais temia guerras e parecia forte para encarar qualquer batalha.

Ah, como foi lindo tudo aquilo vivido como no calor nordestino! Como parecia real, inabalável e tão eterno quanto as ilumiaras das paixões de Suassuna. Os traços e rabiscos vistos nas sinuosas cores das estradas de alegria, músicas e sabores nunca dantes experimentados, pareciam dizer que nada os atingiria. Eram imunes ao mal que viesse de fora a lhes alcançar. Não havia um só buraco nas estradas que fosse capaz de detê-los, e assim deslizavam como em macios tapetes voadores e aconchegantes.

Entretanto, o mal não viria de fora, ele estava narcisicamente todo tempo à espreita, ali mesmo, dentro daquela falsa viagem. E quando menos se esperava, deu-se a grande implosão que fez brotar a noite escura, cruel e fria que se abateu sobre os sonhos manipulados e meticulosamente plantados nela, revelando as sombras que provocaram dores inéditas e cicatrizes sabidamente eternas. Incrédula e atordoada pela dor, ela desejou o desencarne, pois, apunhalada sumariamente, os buracos outrora inexistentes nos caminhos, foram todos produzidos pelos punhais insensíveis naquele corpo entregue e vulnerável.  Como Ele pôde? Interrogava ela a adoecer dia após dia, sem compreender de onde vinha tanta maldade a lhe apunhalar sem piedade, vindo de onde antes parecia um colo protetor.

Irreconhecíveis, as ilumiaras, que pareciam falar de coisas de amor e luz, foram escalavradas e destruídas à unhas da deslealdade, produzindo dor pungente e incessante, pondo em hemorragia terminal um coração que fora dilacerado ao extremo. Agora, seus traços só traduzem um passado de ilusão, que a humanidade jamais compreenderá, um presente de real destruição e destroços, e um futuro sombrio, pois mesmo que o sol volte a brilhar, as noites desta história de amor serão eternamente decepcionantes, escuras e tristes.

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