Não quis ver, acho. Não podia ser real de novo, mas era. Ardia mais uma vez.
Ela mal podia acreditar que mais uma vez vivia o resgate da mesma dor de outrora, dor que queima esperança. A dor doutra farsa travestida de esperança. Como são duros os repetidos ledos enganos.
Logo de início, de arder pareciam ser mesmo especialistas, pois tudo foi tão rápido como incêndio. Já no primeiro beijo, carinhoso e quente, o incêndio fora como em fábrica de fogos de artifício, brilhou e acabou rápido. Logo depois constatou-se, não sem dor, que não passavam de artifícios. Agiu o Tempo.
Quando já não era possível esperar nada mais, o fogo rebrotou do rescaldo. Arderam de novo. Desta vez era diferente, acreditou ela, sempre tão doce amante. Era fogo de lareira, quente e sob controle. Fogo positivo. Fogo pra aquecer coração que já se achava senescente. Era de novo a vida que soprava como brisa pra manter a chama. Era bom, era prazer, era fagulha diária em forma de carinho e com gosto de café forte. Era ardor na medida certa. Fogo maduro desses que iluminam. Entretanto, pelo visto, era só pra ela. Nunca fora pra ele, dado a agora palpável insensibilidade observada e sentida.
Um mísero fósforo de cara embalagem pôs tudo a perder. Era isso que dava prazer a ele, o incêndio e não o fogo. É assim mesmo, onde não há amor verdadeiro, é só terreno inflamável que a tudo destrói. Foi rápido. Queimou tudo. Destruição e mais nada, foi o que sobrou. Nã houve tempo nem para ela se proteger das chamas que provocariam queimaduras e cicatrizes profundas naquele corpo entregue até a alma. Esturricada, recebeu o balde de água fria com ares de misericórdia, mas com bafo de desamor e mentira.
Agora, tal qual terra de Cerrado, incendiada pela combinação de seca e fogo perverso, confia tão somente nas suas profundas raízes que a farão rebrotar um dia, mesmo que precise esperar pela próxima temporada de chuva. Ela, ainda que pareça carvão, prefere ser flor que ser fósforo, pois sabes da vida que tens em si e não quer carregar a dor de queimar ninguém.
Joyce Alves Rocha
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