Poderia passar dias e dias cantando e decantando nosso louco amor... Nossos altos e baixos, nossas retas e curvas, nossos calores e friezas, nossos encontros e desencontros, nossas ilusões e desmistificações, nossas paixões e amornado cotidiano, nosso passado, presente e anseios futuros. Felizmente poetas já fizeram valer os sentimentos em versos e prosas que não me encontro pronta para externalizar. Felizmente posso me valer da música que saiu do coração de um poeta para pôr para fora o que brota inconscientemente do meu. Respiro música como o ar que me alimenta. Respiro poesia para me sentir concreta e forte. Espero que o caminhar de luz de um poeta reluzente permaneça, mesmo com a infame tendência de ventos fortes que insistem em apagar-lhe a vida. Que a música e suas canções alcancem ouvidos e cérebros, em suas tortuosas reentrâncias, e assim atinjam em cheio os corações embrutecidos pela vida dura e de desejos objetivos demais para caber o amor. Joyce Alves Rocha
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Em minha formação como bióloga, tive a oportunidade de “brincar” muito com o microscópio. Na ocasião, o máximo que me dava era um enjôo danado por aquele vai e vem dos parafusos micro e macrométrios, usados para ajustar o foco. Aos poucos fui observando que ao mexer no foco via algumas estruturas que, giro para lá giro para cá, logo se perdiam enquanto outras eram achadas...
Em dias de hoje, fui passar a valorizar tal brincadeira que se tornou tão relevante sob um outro ponto de vista...
Profissionalismo à parte, deixa-me falar onde quero chegar...
Na vida, muitas vezes fica a idéia de que tudo o que temos é o que podemos ver. Acreditamos que o que tocamos, que constituímos a duras penas, que muitas vezes vem atrelado à idéia de concessão, como uma benesse do destino, é tudo que nos cabe. Mal conseguimos enxergar que uma simples mudança de foco faz toda diferença. Nos faz acreditar que podemos muito mais.
Quantas pessoas você conhece que se mantém numa história cíclica e irrelevante só pela falta de garantias vindas do algo novo? E se num giro algo se perder? Para muitos isso é assustador! Creio que nessas situações de “é melhor não mexer do que está quieto” não se vê novas estruturas e o que tem de importante deixa de ser dito, visto e vivido.
São aqueles casamentos insossos e desrespeitosos; são relações vazias, porém estáveis; são os casos de “amor” eternos caracterizados pela espera do que nunca chegará. São as submissões pela manutenção do que nem se tem de fato. São os mesmos pensamentos, as mesmas práticas cotidianas, as mesmas atitudes, os mesmos gostos, os mesmos sabores... onde está a giradinha no foco? Quanta coisa há para ser vista por aí!
Um belo dia, cansada do que tinha em minhas mãos, num gesto simples me peguei em pleno engarrafamento olhando para os lados. Vi-me buscando em cada rosto novo daquele uma outra face da vida. Homens e mulheres, cada qual com vidas diferentes, com algo novo a ser conhecido. Tais incógnitas e anônimas pessoas me fizeram pensar que há um mundão enorme por aí cheio de pontos de vistas e oportunidades diferentes.
Curiosamente, pouco tempo depois estava vendo! Via claramente o que havia para ser visto. Enxergava momentos nunca antes imaginados, muito provavelmente por se quer saber que existiam. Assim, considero ter encontrado a mim mesma num simples e singelo giro em busca de um novo foco.
Ah! Se não der para usar microscópio, veja se ao menos muda de óculos, né?!
Mudanças sempre me trazem reflexão. Me peguei pensando como mudei nos últimos meses... Houve um tempo, recente e longo, em minha vida que não me sentia bem. Digo bem em um sentido bem amplo. Algo assim como: não sou bonita, não sou capaz, não tenho dinheiro, não posso isso, não posso aquilo...
Que eu me lembre, essa convicção me persegue desde a adolescência. A vida realmente dura, atrelada a uma série de pensamentos de pequenez crônica, deixaram marcas bem profundas que adentraram a fase adulta impregnando as minhas certezas.
Chegou a tormenta e eu estava em alto mar! Fui alertada que, ou descobriria rápido que era uma exímia nadadora ou ficaria eternamente esperando um bote salva-vidas, que tem como característica flutuar ao sabor das ondas – hora vindo hora se afastando.
Ao cair nas águas agitadas, mesclava longas horas na expectativa de ser salva com alguns momentos de batidas de braço. Com ecos de uma enorme torcida, aos poucos fui passando a sincronizar as batidas de braços com as de pernas e, como um despertar de um sonho ruim, me vi nadando intensamente. Nossa, Como sei nadar!!!!!! Pensei eu. Tudo bem que ainda não é um nado sincronizado com maestria, mas percebi que me salvei e que tenho força corporal e emocional para vencer até longas competições dentro e fora d´água!
Você a essa hora já deve estar se perguntando... Que salto?
Pois é, um pouquinho menos metafórica, vou explicar. No campo da beleza nunca me senti em condição de usar uma lingerie que valorizasse meu corpo (principalmente para mim mesmo), maquiagem que valorizasse meu rosto (já apresentando as marcas do tempo de descaso), e o símbolo da minha atual inspiração, o salto alto, que valorizasse minhas curvas das pernas e me desse outra postura. Confesso que não é simples esse processo. A pequenez quando sobe no salto ameaça me desequilibrar, mas mantenho a firmeza.
Em dado momento fiquei um pouco incomodada porque me questionei se não estava, de novo, fazendo só porque o outro gosta ou quer. Mas logo obtive a resposta que precisava. Estava sentindo um prazer enorme em me sentir mais bela, mais jovem e com outros atributos que não estava certa se tinha. Seduzir nunca foi problema para mim, mas agora sinto como se essa valorização da qual estou falando fosse antes de qualquer coisa uma sedução para mim. Hoje me sinto bem como se tivesse conquistando a mim a cada dia.
Levo mais tempo comprando, pensando no que usar, elaborando a melhor combinação de cores para colorir a branca pele (com destaque insatisfatório para área dos olhos), caprichando nos hidratantes e perfumes, unhas feitas semanalmente, e... subindo no salto.
Salto... nome sugestivo esse... acho que na verdade dei um salto a frente, um salto para cima, um salto para dentro... Entre uma desequilibrada e outra, vou aprendendo que beleza é o que temos de melhor para nós, para nós! Força nas braçadas!!!!!!!!!!!